terça-feira, 18 de março de 2008

Afins e Enfins

Desejo fumar. Tomar para mim a quietude de um cigarro, ver, deleitada, a total beatitude do fumo vagueando, pacientemente, pelo ar. Sentir no vão dos dedos a responsabilidade de erguer o cigarro, não deixando a cinza transformar-se num manto turvo de pó. Morro por saber sentir-me prepotente por detrás de uma relação de total dependência e indefinido prazer
Interrompe-me o sono, planta de tempo insone, e abandona-me, assim, com os sulcos ténues do pecado mortal.

A subtileza do toque, o suster da respiração do cheiro, a inigualável tentação - amor platónico só meu!
Tenho-me neste quarto. Estranho-me, desconheço-o.
O ziguezaguear do papel de parede confunde-me quando junto ao ziguezaguear do cobertor. Sinto que o quarto, todo ele, ironicamente, faz troça de mim.
Caminho o olhar pelo chão insuportável, pelo sofá roto e pelo armário imundo. Procuro, como sempre fiz, a mais ténue sensação de prazer, nos escombros de tudo o que, infinitamente pessoal, me parece deslocado por opção, mas permaneço numa apatia estonteante capaz de matar com tal expressão de indiferença.
Eis-me aqui, após o meu primeiro trago de vinho.


3 comentários:

Anónimo disse...

Escreves tão bem *.*
quero que me dês um autógrafo, assim quando fores famosa eu já tenho um, que um dia irá ser muito valioso :D

Lilla

Anónimo disse...

Escreves tão bem *.*
quero que me dês um autógrafo, assim quando fores famosa eu já tenho um, que um dia irá ser muito valioso :D

Lilla

Anónimo disse...

Gostei :)
A tua maneira de escrever é parecida com a do George Orwell.
Escreves muito bem parabéns, continua, tens muito jeito. ;)

Kim