sábado, 22 de março de 2008

Parar. Desmembrar tudo o que sinto num lago inquestionavelmente sujo. Parou.
Não me seguiu mais e deixou de ouvir as minhas conversas com o mundo, mundo esse que deixou de ter espaço para o ser. Pára, por favor. Não me toques mais. Tenho nojo do que me fazes sentir ao suspirares no meu ouvido. Páro. Cerrei os meus olhos para nunca mais olhar para ti, para nunca mais olhar teus olhos a chamar por mim. Pararia. Se soubesse mais cedo o que me trazias nos bolsos, tudo teria sido diferente. Não queres que eu pare. Mas vou parar. Não porque tem de ser, mas porque quero. Parei.Sigo sem ti o meu caminho e agora posso beber.

Sim, meu amor. Sem ti, vou beber.

terça-feira, 18 de março de 2008

Afins e Enfins

Desejo fumar. Tomar para mim a quietude de um cigarro, ver, deleitada, a total beatitude do fumo vagueando, pacientemente, pelo ar. Sentir no vão dos dedos a responsabilidade de erguer o cigarro, não deixando a cinza transformar-se num manto turvo de pó. Morro por saber sentir-me prepotente por detrás de uma relação de total dependência e indefinido prazer
Interrompe-me o sono, planta de tempo insone, e abandona-me, assim, com os sulcos ténues do pecado mortal.

A subtileza do toque, o suster da respiração do cheiro, a inigualável tentação - amor platónico só meu!
Tenho-me neste quarto. Estranho-me, desconheço-o.
O ziguezaguear do papel de parede confunde-me quando junto ao ziguezaguear do cobertor. Sinto que o quarto, todo ele, ironicamente, faz troça de mim.
Caminho o olhar pelo chão insuportável, pelo sofá roto e pelo armário imundo. Procuro, como sempre fiz, a mais ténue sensação de prazer, nos escombros de tudo o que, infinitamente pessoal, me parece deslocado por opção, mas permaneço numa apatia estonteante capaz de matar com tal expressão de indiferença.
Eis-me aqui, após o meu primeiro trago de vinho.